Obrigado Evandro
Márcio Monteiro
Que droga!
Ouve-se, fala-se, pensa-se, e também se lê - como agora - a locução interjetiva acima, que expressa insatisfação, desagrado,
inconformidade, com algo… e algo ruim,
muito ruim, certamente! Droga sempre se acha em associação a alguma
coisa negativa, ainda que depois se chegue a um resultado esperado, satisfatório. Um
exemplo: o medicamento que combate dada enfermidade. Trata-se de uma droga
(princípio ativo). E
aí, pergunto: já leu a bula? Advertências, reações adversas, efeitos colaterais… Mas
não era para curar? Bem, a rigor é.
O remédio é droga lícita, muitas
vezes; outras, não: sofrem restrições, controle. O álcool é lícito, tal qual
o tabaco. Ambos pagam tributos, regulamentados que são. A maconha,
por exemplo, é ilícita. E o betacaroteno (isso mesmo, aquele da cenoura,
da abóbora)? E
quando ele é utilizado (ingerido) com fins estéticos, para
bronzear? Carboidratos estão presentes em nossa alimentação, e engordam,
e podem fazer mal; viciam, da mesmo modo que chocolate, café e coca-cola (cafeína, também nos energéticos que prometem “dar asas”).
Sabe a diferença de um
comedor abusivo de massudas cozinhas-de-galinha, de um chocólatra, de um
bebedor exagerado de álcool (o médico me mandou tomar um cálice de vinho
tinto seco por dia, por causa do colesterol), para um maconheiro? Pense. Somos
todos adictos, comandados ou auxiliados, por algo, ligados a alguma coisa, até mesmo trabalho (que nos afasta da família e amigos),
e aquele inocente Rivotril, cotidiano, companheirão, difícil de abandonar, para conciliar seu sono um tanto
quanto conturbado.
Tudo isso, acreditem, para falar de
amor e solidariedade. Se a Novidade não é para o maconheiro,
por exemplo, não é para todos. Se fazemos julgamento apriorístico e moral
do cocainômano, então tal moral encobriu a Boa Nova. Se o tomado pelo
crack não nos comove,
onde foi parar a Luz que dizemos nos iluminar o caminho? Se não nos
convertemos em graciosos mentirosos, não escolhemos, não selecionamos objetos assépticos e
dignos de receber a Palavra, mas somos guiados pelo Espírito, o único que é Santo.
Busca a droga, qualquer uma, quem
encontra dificuldade em viver a vida, simplesmente isso, não suportando
vazios e ausências de sentido, não encarando sem fantasias o que espanta, não fazendo da
angústia produção, o que não é para qualquer um, convenhamos, pois envolve Fé e Desejo. Demonizadas, há drogas que são objeto de
lucro escuso de quem se faz de fornecedor do mal para mais mal ainda. Por que não sugerir,
apoiar e colaborar com políticas públicas e alternativas que traduzam evangelicidade autêntica e
radical? Algo a se considerar com toda a seriedade, não? Corpo e
alma.
A pior droga hoje a assolar
comunidades de fé é aquela que não nos deixa
ver o sofrimento do próximo - o narcisismo cristão -, de deletérios e nocivos
efeitos sobre grande parte dos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro e
que, por isso mesmo, preferem não correr o risco de uma nodoazinha ao contato com a
gente emporcalhada pela desgraça do mundo. Chamados a socorrê-los, só corremos deles! E aí, aí sim, há pecado!!!
E o pecado também é uma droga. Ainda bem que Ele nos tratou de forma
diferente. Façamos o mesmo aos demais!
Evandro Limongi Marques de Abreu
Bacharel em teologia; bacharel e
mestre em direito; advogado, professor, psicanalista.
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